Meu pai foi um homem muito sábio.
Era pedreiro, semi-analfabeto, de baixa estatura, às vezes explosivo, amava muito a família e trabalhava muito..
Talvez esta não seja a descrição de características que você espera de um sábio.
Quando pensamos em homens sábios a figura que nos vem à mente são daqueles homens barbudos vestidos de maneira simples que vivem em algum templo, caverna ou e lugares inóspitos e solitários, bibliotecas talvez.
A figura de um pedreiro de um metro e sessenta, semi-analfabeto com certeza não tipifique um homem sábio.
Posso compartilhar com você um pouco da vida do homem que considero um sábio?
Meu pai nasceu em Bagé – RS, e perdeu sua mãe muito cedo, seu pai casou logo em seguida com uma mulher muito mais nova que desejava mais as posses de meu avô que sua companhia.
Assim influenciado pela nova esposa meu avô expulsa-o de casa, ele viaja para Porto Alegre onde passa a viver nas ruas. Adolescente sem muita instrução e sem saber para aonde ir vagava durante o dia engraxando sapatos e a noite em uma avenida do centro juntava-se a outros moradores de rua e embaixo de um viaduto dormia.
Um dos moradores daquele viaduto invadiu um apartamento próximo e no assalto matou o proprietário, na fuga escondeu-se no viaduto e ao ser preso acusou meu pai pelo crime sabendo ser ele menor de idade o que significaria que somente iria para alguma casa de correção para menores e depois sairia em alguns dias.
Só que a história não foi bem assim, meu pai foi transferido para o presídio e lá ficou grande parte de sua vida.
Nada sábio não é?
Mas ele saiu, cumpriu sua pena e em liberdade recomeçou, trabalhava como ajudante de pedreiro e dormia em um porão alugado. Neste porão conheceu minha mãe e ali formaram uma família.
Saíram daquele porão e compraram uma casa de madeira em uma vila em Porto Alegre, começaram a viver juntos e logo em seguida nasceu meu irmão. Não muito tempo depois a casa onde moravam pegou fogo e o pouco que possuíam foi queimado, dormiram muitas noites em uma cocheira de cavalo emprestada por um vizinho.
Meu pai aprendeu a ser pedreiro reconstruindo sua própria casa.
Alguns anos depois eu nasci, e com o tempo lembro que muitas vezes sentávamos a mesa após o jantar e ouvíamos as histórias do meu pai.
Não consigo me lembrar do dia em que vi mágoa, raiva, ódio, rancor ou qualquer espécie de sentimento negativo em meu pai ao contar sua vida. Ele nunca mais viu sua família, nem nunca soubemos de parentes de meu pai. Mesmo assim, nos contava sua vida como um livro que lia para seus filhos.
Hoje penso muito sobre ele, sua vida e principalmente sua história. Meu pai tinha todos os motivos do mundo para culpar a vida, a Deus, as circunstâncias, ser um coitado, que se lamenta da vida ou retribui com coisas ruins.
Mas ele escolheu outro caminho, o da liberdade.
Ele viveu como um homem livre, como um homem que mesmo preso a circunstancias ou lugares, era livre em seu interior. Meu pai me ensinou que somos livres em nossa alma, quando escolhemos viver como seres livres.
Somente nós podemos escolher: viver como uma pessoa livre ou escrava. Não existe neste mundo lugar, pessoa, circunstancia ou cadeias que limitem nossa liberdade.
Não me entenda mal, não estou falando de pensamento positivo, nem de auto-ajuda, falo de escolha.
A liberdade é uma escolha, uma decisão.
Ser livre não é ir para aonde se deseja, é escolher seguir por aonde Ele vai.
Ser Livre não é ser o que bem entender, é escolher ser transformado no ser que Ele deseja.
Ser livre não é existir para si mesmo, mas escolher existir para servir.
Ser livre não é seguir a própria vontade, mas permitir Ele transformá-la em Cumprir.
Ser livre é permitir que Ele transforme o nosso vagar em Seguir.
Ser livre é tomar posse do Seu perdão e Suas promessas, é ser liberto pelo Amor que Dele vem e escolher ser restaurado.
Do pecado que me afeta,
Que me impede de seguir
Livre enfim, livre enfim
Da culpa e da amargura
Que me fazem regredir,
Livre enfim
Livre enfim, livre enfim
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